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Òrúnmìlà Onilé

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No projeto “Òrúnmìlà Onilé”, todas as vertentes artísticas - pinturas, desenhos, fotografias e vídeos - produzidas por Kithi se apresentam conjuntamente. Todos os formatos pulsam no sentido único da lei interna do ser: o duradouro. Sua ancestralidade é a sua firme direção. Ela caminha de acordo com o tempo, e com o tempo muda a forma de expressão, mas nunca a sua firme proposta de conexão com a espiritualidade e as impressões que recebe da natureza e das tradições afro-indígenas, com as quais se relaciona desde a infância, no Recôncavo Baiano. Os elementos criativos que conduzem a sua inquietude de querer traduzir o indizível é também a sua sobrevivência psicológica. Uma aliança mística com a própria alma. A ressonância da necessidade interior de criar o sagrado em si é manifestada na personalidade das suas obras originária da tarefa de apurar a alma a partir da observação de todos os seus movimentos frente aos movimentos ao seu derredor, tendo quase sempre, a água como fio condutor da criatividade. A água é a dona do seu Ori. A tradição do povo preto da Bahia é a fonte primária de toda energia que banha o fazer artístico de Kithi. A base estrutural de todo o pensamento, que passa pelo estudo de religiões diversas, filósofos, cientistas e a experiência empírica do viver. Aí se encontra a base para suas criações: a composição videográfica artístico e documental, a fotografia, os desenhos e as pinturas sobre tela.  Assim “Òrúnmìlà Onilé” é dividido em cinco atos: Omi Paranã, Afefé Ina, Ilê Aye Arandu, Samba

Omi Paranã traz a tradição do Bembé do Mercado, uma afirmação ao direito à liberdade através da reverência à água, berço da prosperidade para o povo de Santo Amaro da Purificação, que na sua maioria vive dos frutos do mar e do manguezal.

Afefé Ina traz o vento de Iansã e o fogo de Xangô. Um movimenta “as chuvas” fazendo germinar as sementes junto com a força que purifica a vida: o ar; e o outro aquece o coração fortalecendo a decisão de seguir o caminho da alma. A festa da fé em Santa Bárbara, em Salvador, é o ponto documental apresentado.

Ilê Aye Arandu traz a magia de Oxossi, inseparável de Ogum, sobre a terra de Omolú. Aqui é a absorção da sabedoria da terra por vivência, numa relação intrínseca com o ambiente sagrado de si conectada simbioticamente com o entorno, de onde chegam os saberes decisivos para saúde do corpo, da alma e do espirito, consequentemente, a mesma do Planeta Terra. As festas de Santo Antônio e de Omolu são o registro documental deste ato.

O título deste projeto une Òrúnmìlà a Onilé. Literalmente Sabedoria na Terra. Òrúnmìlà, palavra em Yorubá, o sábio conselheiro do Ifá e Onilé, palavra em Tupi, o Ilê, a casa, a terra, o abrigo de todos.

 A Luta Vitoriosa é uma obra feita a partir do movimento da luta externa e interna travada pela artista onde Exu e Yansã tomou a frente para ajudá-la a compreender o movimento e, a partir da compreensão, torná-la vitoriosa.

Samba - para a artista, o ditado popular - na forma literal e com a intenção de beleza - “tudo acaba em samba” é a sua verdade. O samba é o lugar onde o corpo físico se renova energeticamente com o poder da alegria, que inevitavelmente leva o olhar para apreciar a beleza da vida.  É o movimento rítmico, da brincadeira, da vadiagem, da capoeira, da descontração que permite a apreensão dos ensinamentos do Professor Exu: tão necessário para reestabelecer a energia vital e ter coragem para enfrentar as demandas do dia-a-dia. Aqui estarão os vídeos do samba raiz do Recôncavo da Bahia e as imagens de Exu dentro de Kithi, um ser que permeia todos os caminhos da terra, incluso nas matas.

Roda D’Água, o último ato, mas o estágio primeiro da decoberta consciente da Dona do seu Ori, Yemanjá. Com a introspecção vivida na composição da obra Roda D´Água, que traz à tona os ensinamentos de Lao Tsé, do Budismo e de Kandinsky, Kithi pôde perceber que a luta da água para sobreviver a ação humana é exatamente a luta que ela própria trava diariamente. Nessa construção que passa por estágios de contração e relaxamento, a artista desenha a roda do futuro cujo caminho é o retorno a reverência e o respeito ao princípio, a fonte de onde jorra a vida abundante: a água. Neste ato a obra completa conta com 5 momentos: a Batalha, a Dança, Densidade, Contemplação e Abundância.

Como escreve Philippe Sers, na apresentação do livro “Do Espiritual na Arte” de Wassily Kandinsky: “a arte deve corresponder a uma necessidade interior, buscando, por certo, suas fontes em sua época, mas, sobretudo, gerando um futuro”

Aguar, obra videográfica artistica e documental feita por Kithi com a parceria de Caetano Bezerra.

JUSTIFICATIVA

O projeto Òrúnmìlà Onilé traz para o espaço expositivo a tradição do povo baiano através da leitura documental e artística de Kithi, cuja construção de tudo que faz na vida, desde 1999, está firmada na aprendizagem da sabedoria dos povos afro-indigena-euro, que no contexto da convivência forçada criou a mistura existente no Brasil. Na proposta se evidencia e sobressai o povo preto, ancestralmente, mais presente na vida física e espiritual da artista, seguindo do povo indígena que chega através da Umbanda e posteriormente em vivências junto aos povos originários da Bahia e do Estado do Amazonas. E o povo Euro que está fortemente presente na sua família de sangue através, principalmente, da religião católica. A força da presença dos povos na artista está vinculada diretamente as tradições religiosas. Para ela, a espiritualidade é o próprio ser. O físico é a materialidade do espiritual, nem bom, nem mau, apenas uma oportunidade de viver neste tempo material. Uma querência da alma.

A ideia é mostrar a raiz de uma gente que oferece o caminho, a força, o trabalho e a inspiração que faz a Bahia ser o que é e prosperar.A ideia é mostrar a raiz de uma gente que oferece o caminho, a força, o trabalho e a inspiração que faz a Bahia ser o que é e prosperar. Ter a oportunidade de se ver num espaço nobre, Caixa Cultural, é também uma forma de descolonizar o pensamento.

AÇÕES

1 – Exposição de 4 atos em formato mosaico contendo a vivência artística de Kithi, junto ao povo da sua terra Bahia, nos diversos formatos: vídeo documentos, vídeo arte, vídeo poesia, desenhos, fotografias e pinturas em tela criarão diálogos interrelacionados sobre 4 aspectos diferentes da natureza, representado pela tradição de culto as Divindades afro-indígenas.  2 – Um ato, Roda D’Água, obra completa da construção mental e formação educativa consolidada pela observação da água, nomeada de Yemanjá, ori da cabeça da artista 3 - Propomos a realização de 6 oficinas de samba de roda com a mestra Joseane e uma oficina de construção de pandeiro artesanal, com duração de 5 dias, com Mestre Plínio. Ambos do Samba Chula Filhos de Oyó  4 – 3 tardes de visita guiada para público passante  5 – apresentação de samba chula na abertura da exposição com a presença de 3  tocadores, 1 gritador de chula, e 1 músico que responde o relativo; a Mestra Sambadeira Joseane,  a Mestra Sambadeira Zélia do Prato e sua discípula Lú Silva   6 – Ampla divulgação da exposição na Revista Assum Preto que hoje conta com 13.000 seguidores. 7- áudio descrição de três obras de cada ato, 15 ao total, podendo ser ouvida pelo celular da pessoa, através de link disponibilizado no site da artista, durante o período expositivo.

RELEVÂNCIA E PERTINÊNCIA

O tema da exposição leva ao público a leitura artística e documental de Kithi sobre a beleza da tradição do povo baiano que tem como fundamento da fé a reverência aos elementos da natureza, que se observarmos com consciência, deveria ser o primeiro ato para o tratamento do meio ambiente, hoje imensamente prejudicado pelas ações humanas, que transformou todas as vertentes da vida em produto, até mesmo o próprio ser humano. Propagar essa reverência é nos oferecer uma oportunidade de dar um passo atrás e voltarmos a enxergar a natureza com o devido respeito que lhe devemos, porque em suma, somos ela. Somos constituído de água, do ar que respiramos, do fogo que apaixona o coração, dos alimentos presenteados pela terra e da energia vital que vem do quinto elemento e anima o nosso ser.

Se tratando de um tempo onde a decolonialidade é um processo necessário para revertermos amorosamente as nossas ações destrutivas sobre o Planeta Terra, Òrúnmìlà Onilé é uma contribuição para a desconstrução de padrões, conceitos e perspectivas impostas ao povo preto e aos povos originários.

Nestes dois parâmetros estão apresentadas a relevância e a pertinência do projeto Òrúnmìlà Onilé para o povo afro-indigina.

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